quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O perigo da deriva de 2,4-D para os pomares brasileiros de nogueira-pecã

           A nogueira-pecan (Carya illinoinensis) é cultivada em mais de 12.000 hectares no Brasil, com implantação de 1.000 hectares anualmente. Isso demonstra a grande importância econômica que a cultura possui. Porém, nos últimos meses pecanicultores do RS que possuem pomares jovens e/ou adultos estão preocupados com seus pomares, pois muitos estão sofrendo com danos causados pela deriva do herbicida sistêmico 2,4-D, comumente utilizado por produtores de soja (Glycine max). Normalmente a nogueira-pecan acaba sendo afetada pela deriva do agrotóxico porque o pomar esta localizado muito próximo de uma lavoura de soja, e não raramente, o aplicador não adota os devidos cuidados para evitar a deriva (aplicar em dias com pouco vento, observando a temperatura do ar, etc.).
A Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural  (Seapdr) registrou até ontem 116 denúncias de deriva do herbicida 2-4, D e já foram coletadas 149 amostras encaminhadas para análise química (SEAPDR, 2019[1]). O mais impressionante é que nesta segunda-feira (25/11/19), a Seapdr divulgou a informação sobre as amostras de tecidos vegetais coletadas em áreas com suspeita de deriva encaminhada ao LARP (Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas). Constatou-se que das 76 amostras coletadas, 100% delas continham a presença do 2,4 – D (SEAPDR, 2019). Além da Nogueira-pecan, constatou-se a presença do herbicida em Ameixeira (Prunus domestica), Caquizeiro (Diospyros kaki), Macieira (Malus domestica), Oliveira (Olea europaea), Tomateiro (Solanum lycopersicum), Videira (Vitis vinifera) e algumas pastagens (SEAPDR, 2019).
A nogueira-pecan é extremamente sensível a deriva de herbicidas como glifosato, 2,4-D, entre outros (WELLS, 2019[2]). Quando a deriva atinge nogueiras jovens ou adultas os sintomas são observados em poucos dias após e com mais intensidade nas plantas próximo ao local de aplicação, mas há relatos que os danos podem ser observados a quilômetros do local. A intensidade dos danos dependerá das condições ambientais no momento da aplicação, da dose de herbicida utilizado, do estagio fenológico da cultura e do volume de copa atingido.
              Os sintomas são perceptíveis a olho nu, se caracteriza por uma sutil dobra do folíolo e/ou ondulação dos folíolos e até mesmo da folha. Conforme o tempo passa, os folíolos começam a enrugar severamente e posteriormente tornam-se cloróticas ou amareladas. Com a evolução dos sintomas os folíolos atingidos começam a necrosar e é abortado (morre) e o ramo torna-se ondulado, fenômeno chamado de epinastia. Se a quantidade de produto que atingiu a planta for grande, não raramente se observa a morte dessa nogueira. Na Foto abaixo podemos observar os sintomas típicos causados pela deriva de 2,4-D em uma planta de nogueira-pecan que estava em seu segundo ciclo de crescimento





           Se o pecanicutlor identificar nas plantas os sintomas descritos é importante que realize a coleta de ramos e folhas e posteriormente encaminhe a amostra para o laboratório.Com esse laudo tem-se a confirmação da fitotoxidez e o documento servirá de suporte para que o produtor busque o ressarcimento financeiro junto ao indivíduo que realizou a pulverização e a deriva causou os danos. O LARP, localizado na Universidade Federal de Santa Maria, realiza os testes para a identificação do tipo de molécula de causou fitotoxidez em plantas. Você pode acessar o site www.ufsm.br/laboratorios/larp/ onde há mais informações sobre a forma de coleta das amostras, entrega, etc. 





[1] Seapdr (Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural). Acesso em 26 nov. 2019. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/primeiros-laudos-de-analise-quimica-indicam-presenca-de-2-4-d-em-amostras-coletadas>.[2] Wells, L. Handling Herbicide Drift in Pecan Orchards. Pecan South magazine. April, 2019.


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