sábado, 30 de novembro de 2019

Nogueira-pecã e as propagandas da "super produtividade"

       Há várias anos algumas empresas da cadeia produtiva da pecanicultura brasileira vêm difundindo informações sobre a produtividade da cultura e o retorno financeiro possível de ser obtido. Entenda-se como produtividade a massa de nozes produzidas em uma área, no caso, em 1 hectare. A mais de 10 anos ouço vários profissionais prometendo altas produtividades, 5 toneladas/hectare, 10 toneladas/hectare, 15 toneladas/hectare ou até mesmo 20 toneladas/hectare. Números impressionantes, porém, são informações que não são comprovadas em nenhum pomar comercial do mundo. Observe na foto abaixo, material informativo distribuído por uma empresa a alguns anos atrás onde apresenta-se uma produtividade de 20 ton./ha.


       Certamente tenho interesse em obter a maior produtividade possível em um pomares de nogueira-pecã, podendo-se almejar uma média 2 a 2,5 toneladas/ha. Sento muito otimista, em anos excepcionais, talvez 3 toneladas, mas para 20 toneladas/ha, IMPOSSÍVEL. Isso trata-se de uma informação incorreta, claramente com intenção de atrair investidores desinformados para a cultura. 
      Em outro post vou apresentar a produtividade média de diversos países como EUA, México, África do Sul, Austrália, Argentina, Uruguai e Brasil (alguns pomares nacionais aos quais tive acesso a informação disponibilizada pelo pecanicultor). 
      Portanto, caso participe de algum "curso", "palestra" ou receba algum material informativo e nele conste produtividades absurdamente elevadas, tenha cuidado, essa é uma informação técnica incorreta. Caso o agente informante continue assegurando que existem no Brasil pomares com essa produtividade, peça para visitar o pomar na época de colheita e acompanhar a pesagem, só assim acredite na informação. 

Ocorrência precoce de pulgão amarelo

          Já estamos iniciando o mês de dezembro e em muitos pomares é possível observar a ocorrência do pulgão amarelo, Monellia caryella. Esse pulgão normalmente frequenta a parte inferior dos folíolos, onde suga a seiva da planta. Rapidamente a população desse afídio pode aumentar e começar a causar danos econômicos `cultura. Essa praga, nos outros anos, era observada apenas a partir de janeiro/fevereiro, talvez a ocorrência de chuvas e precipitações regulares tenham auxiliado na precocidade da ocorrência. 

Inicia o aparecimento de deficiência de zinco

Neste ciclo tem havido precipitações com boa regularidade e intensas, isso tem permitido que as plantas de nogueira-pecã cresçam de forma rápida e vigorosa. Como o crescimento é vigoroso, a planta tem uma demanda nutricional elevada por nitrogênio, fósforo, potássio, etc. Um outro nutriente que a nogueira necessita é o zinco (Zn), porém, muitas plantas não tem essa demanda suprida, ocorrendo assim a deficiência de zinco, como observado no folíolo abaixo.
Para evitar que ocorra deficiência de Zn nas plantas é interessante que o produtor realize uma análise química do solo para verificar o teor deste elemento no solo, e se necessário, realizar a aplicação no pomar. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O perigo da deriva de 2,4-D para os pomares brasileiros de nogueira-pecã

           A nogueira-pecan (Carya illinoinensis) é cultivada em mais de 12.000 hectares no Brasil, com implantação de 1.000 hectares anualmente. Isso demonstra a grande importância econômica que a cultura possui. Porém, nos últimos meses pecanicultores do RS que possuem pomares jovens e/ou adultos estão preocupados com seus pomares, pois muitos estão sofrendo com danos causados pela deriva do herbicida sistêmico 2,4-D, comumente utilizado por produtores de soja (Glycine max). Normalmente a nogueira-pecan acaba sendo afetada pela deriva do agrotóxico porque o pomar esta localizado muito próximo de uma lavoura de soja, e não raramente, o aplicador não adota os devidos cuidados para evitar a deriva (aplicar em dias com pouco vento, observando a temperatura do ar, etc.).
A Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural  (Seapdr) registrou até ontem 116 denúncias de deriva do herbicida 2-4, D e já foram coletadas 149 amostras encaminhadas para análise química (SEAPDR, 2019[1]). O mais impressionante é que nesta segunda-feira (25/11/19), a Seapdr divulgou a informação sobre as amostras de tecidos vegetais coletadas em áreas com suspeita de deriva encaminhada ao LARP (Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas). Constatou-se que das 76 amostras coletadas, 100% delas continham a presença do 2,4 – D (SEAPDR, 2019). Além da Nogueira-pecan, constatou-se a presença do herbicida em Ameixeira (Prunus domestica), Caquizeiro (Diospyros kaki), Macieira (Malus domestica), Oliveira (Olea europaea), Tomateiro (Solanum lycopersicum), Videira (Vitis vinifera) e algumas pastagens (SEAPDR, 2019).
A nogueira-pecan é extremamente sensível a deriva de herbicidas como glifosato, 2,4-D, entre outros (WELLS, 2019[2]). Quando a deriva atinge nogueiras jovens ou adultas os sintomas são observados em poucos dias após e com mais intensidade nas plantas próximo ao local de aplicação, mas há relatos que os danos podem ser observados a quilômetros do local. A intensidade dos danos dependerá das condições ambientais no momento da aplicação, da dose de herbicida utilizado, do estagio fenológico da cultura e do volume de copa atingido.
              Os sintomas são perceptíveis a olho nu, se caracteriza por uma sutil dobra do folíolo e/ou ondulação dos folíolos e até mesmo da folha. Conforme o tempo passa, os folíolos começam a enrugar severamente e posteriormente tornam-se cloróticas ou amareladas. Com a evolução dos sintomas os folíolos atingidos começam a necrosar e é abortado (morre) e o ramo torna-se ondulado, fenômeno chamado de epinastia. Se a quantidade de produto que atingiu a planta for grande, não raramente se observa a morte dessa nogueira. Na Foto abaixo podemos observar os sintomas típicos causados pela deriva de 2,4-D em uma planta de nogueira-pecan que estava em seu segundo ciclo de crescimento





           Se o pecanicutlor identificar nas plantas os sintomas descritos é importante que realize a coleta de ramos e folhas e posteriormente encaminhe a amostra para o laboratório.Com esse laudo tem-se a confirmação da fitotoxidez e o documento servirá de suporte para que o produtor busque o ressarcimento financeiro junto ao indivíduo que realizou a pulverização e a deriva causou os danos. O LARP, localizado na Universidade Federal de Santa Maria, realiza os testes para a identificação do tipo de molécula de causou fitotoxidez em plantas. Você pode acessar o site www.ufsm.br/laboratorios/larp/ onde há mais informações sobre a forma de coleta das amostras, entrega, etc. 





[1] Seapdr (Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural). Acesso em 26 nov. 2019. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/primeiros-laudos-de-analise-quimica-indicam-presenca-de-2-4-d-em-amostras-coletadas>.[2] Wells, L. Handling Herbicide Drift in Pecan Orchards. Pecan South magazine. April, 2019.


sábado, 16 de novembro de 2019

14 Notícias) IBPecan organiza projeto junto a Fiergs para análise do mercado mundial de Pecan


O Instituto Brasileiro de Pecanicultura disponibilizou aos seus associados, uma ferramenta de análise de mercados para identificação das oportunidades de exportação de Nozes-Pecan. A notícia completa pode ser acessada no link: https://www.ibpecan.org/post/projeto-fiergs-ibpecan 

Notícias 13) IBPecan é o novo Coordenador da Câmara Setorial da Noz-pecã


No dia 29 de outubro, em reunião do Comitê Gestor, a coordenação da Câmara Setorial ficará a cargo do vice-presidente do Instituto Brasileiro da Pecanicultura (IBPecan), Demian Segatto da Costa. A notícia completa pode ser acessada no link: https://www.ibpecan.org/post/o-ibpecan-é-o-novo-coordenador-da-câmara-setorial-da-noz-pecã

12) Download: Boletim Técnico na revista Campo & Negócio

Foi publicado no mês de outubro de 2019, na revista Campo & Negócio, o boletim técnico intitulado: Noz-pecã, composto por cinco artigos diferentes:










12) Download: Alelopatia de Carya illinoinensis (wangenh.) K. Koch na germinação e desenvolvimento de plântulas de Lactuca sativa L.


Alelopatia de Carya illinoinensis (wangenh.) K. Koch na germinação e desenvolvimento de plântulas de Lactuca sativa L. 




10 Artigo cientifico) Qualidade micológica de nozes pecan do Brasil: ausência de fungos aflatoxigênicos e aflatoxinas

Artigo publicado no periódico Ciência Rural, em junho de 2019.

RESUMO: Nos últimos anos, o Brasil tem incentivado o cultivo de pecãs para atender a demanda do mercado nacional e internacional de nozes. Novas variedades genéticas de pecãs foram selecionadas nos últimos anos, mas informações científicas disponíveis sobre a ocorrência de fungos e aflatoxinas na literatura internacional estão desatualizadas. Portanto, o presente estudo objetivou quantificar e identificar a microbiota fúngica e a presença de aflatoxinas em nozes cultivadas no sul do Brasil. Cinquenta e dois lotes de nozes (variedade Barton) foram obtidos de produtores de 19 municípios do Estado do Rio Grande do Sul e analisados por meio de Ágar Dicloran Glicerol 18% (DG18) e Aspergillus Flavus e Parasiticus Agar (AFPA), após incubação em 25 °C durante 7 dias. Análises de aflatoxinas foram realizadas usando HPLC acoplado a um espectrômetro de massa. Os resultados revelaram pelo menos 10 gêneros diferentes de fungos. Aspergillus, Penicillium, Fusarium e Cladosporium foram predominantes. Espécies xerofílicas de Aspergillus (A. wentii, A. ruber, A. pseudoglaucus e A. chevalieri) foram comumente encontradas nas amostras. Nenhuma espécie potencial produtora de aflatoxinas foi isolada e nenhuma aflatoxina foi detectada (LOQ=1 μg/kg e LOD=0,1 μg/kg para AFB1 e AFB2; e 0,3 μg/kg para AFG1 e AFG2) nas amostras avaliadas. A ausência desse grupo carcinogênico de micotoxinas é altamente positiva e pode impulsionar os investimentos no setor, além de estimular a comercialização e o consumo dessa variedade de nozes.



11) Download: Aspectos e critérios básicos para implantação de pomar de nogueira-pecã

A Embrapa Clima Temperado o Comunicado Técnico 365, intitulado "Aspectos e critérios básicos para implantação de pomares de nogueira-pecã".

A obra possui 19 páginas, com várias ilustrações, tabelas e figuras.

Você pode fazer o download, gratuitamente, do material no link: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1109531/aspectos-e-criterios-basicos-para-implantacao-de-pomar-de-nogueira-peca

Boa Leitura!

10) Download: Desenvolvimento fenológico e poda de desponte associado ao uso de biofertilizantes no crescimento de nogueiras-pecã

No link a seguir você pode fazer o download da dissertação: Desenvolvimento fenológico e poda de desponte associado ao uso de biofertilizantes no crescimento de nogueiras-pecã.

Notícias 12) Pecanicultura brasileira em destaque na Band

A pecanicultura brasileira foi destaque no programa Vitrine Rural, na Band, confira a reportagem completa no link abaico:


03) Poda verde

O período tradicional da poda da pecan é durante o inverno, quando a planta está sem folhas, em repouso vegetativo. Esta normalmente é uma poda corretiva, onde são eliminados ramos em forma de forquilhas, “pés-de-galinha”, etc. Já nesta época realizamos a poda verde, com objetivo de direcionar o crescimento da planta, seguindo um sistema de condução, que na pecan chamados de líder-central.
Na foto à direita (A) é possível observar uma muda com brotação vigorosa e com abundância de ramos (em alguns nós há até três ramos). Perceba que há brotação em vários nós da planta e naturalmente já se observa um ramo mais vigoroso, de maior comprimento, que começa a se posicionar como líder. Como devemos proceder com a poda em uma planta assim?

A
 

O primeiro passo é definir qual broto será o lide-central, optando pelo mais vigoroso, com maior calibre e que, preferencialmente, esteja próximo ao ápice da muda. Feito isso, o segundo passo consiste em remover todos os ramos abaixo do líder-central, deixando cerca de 10 cm sem nenhum ramo, isso garantirá que o líder cresça com mais vigor. No terceiro passo se houver dois ou três ramos por nó, devemos podar e deixar apenas um.

Líder-central
 
No quarto passo, despontar o líder-central, caso já esteja com pelo menos 50 cm de comprimento, se ainda não estiver aguarde mais alguns dias para realizar o desponte. Em seguida, também desponte os ramos laterais que estão com 50 cm de comprimento. E finalmente, elimine as brotações que se originam do porta-enxerto e brotações que estão a uma altura de até 40cm do solo.

B
 

Observe na foto ao lado (B) a mesma planta, agora após a poda. Temos a região de 10 cm abaixo do lide-central sem nenhum ramo competindo (pois foram podados) e os ramos laterais e o líder foram despontados. Veja como é prático e rápido realizar a poda verde, uma das práticas culturais mais importantes da cultura da nogueira-pecã no período vegetativo, principalmente em pomares jovens, recém plantados (inverno de 2019), com um e/ou dois anos.

B
 
 

05) Viabilidade dos grãos de pólen em pomares brasileiros de nogueira-pecã

Este ano iniciei um estudo/levantamento para determinar a viabilidade dos grãos de pólen de mais de 15 cultivares nogueira-pecã nos pomares do Rio Grande do Sul. Muitos produtores, infelizmente mal orientados por viveiristas e técnicos, além de implantar uma percentagem baixa de polinizadoras nos pomares (10% ou menos), também utilizam cultivares que possuem uma viabilidade menor dos grãos de pólen. Além disso, dependendo das condições nutricionais das plantas e das condições climáticas durante o período de polinização, a viabilidade destas estruturas é reduzida de forma considerável.
Acho interessante que pecanicultura 3.0 ou 4.0 fomentada principalmente por alguns agentes da cadeia produtiva, há preocupação em instalar um sistema de irrigação, desde o primeiro ano, que te custa R$ 6.000,00 a R$ 8.000,00/hectare, inocular micorrizas e outros microrganismos (todos manejos adequados, não desconsidero isso), porém, escolheram as (ou 'a') cultivares polinizadoras de forma empírica, desconsiderando o período de liberação do pólen, diferente para cada microrregião do estado e também negligenciando a viabilidade e o volume do pólen.
Nas fotos abaixo podemos observar uma técnica que estou viabilizando, quanto a determinação da viabilidade dos grãos de pólen, das diferentes cultivares de pecã, coletado em mais de 20 pomares comerciais em diferentes municípios gaúchos.
E você, pecanicultor, sabe qual a percentagem de grãos de pólen que estão viáveis nesta safra, em seu pomar? Anualmente estima-se uma perda de produtividade em torno de 20% apenas por problemas na polinização da nogueira-pecã. 


Retorno de Scolytidae em pomares brasileiros de nogueira-pecã

Este ano, 2019, mais precisamente no mês de novembro, tem aumentando o relato da ocorrência de Scolytidae em pomares brasileiros de nogueira-pecã. Esta praga não vinha causando danos significativos desde o ano de 2016. Já tive relatos e visitei pomares com ataques este ano em:
- Santa Cruz do Sul (RS)
- Santo Ângelo (RS)
- Cachoeira do Sul (RS)
- Guarapuava (PR)
Especificamente em Santo Angêolo, o produtor quantificou as plantas atacadas, somando um total de 6,83%.

Scolytidae pode atacar plantas de diversas idades, porém, os sintomas são sempre os mesmos. No tronco da nogueira-pecã atacada observa-se um pequeno orifício, com exsudação de seiva pela planta, logo que esta é atacada, observe a foto ao lado.


Com o passar dos dias, é sessado a exsudação de seiva e há acúmulo de excrementos do Scolytidae no orifício, facilmente percebido a olho nu, desde que se observe a planta com atenção. Este orifício é pequeno, medindo cerca de 1mm, como podemos observar nas fotos ao lado.

Scolytidae é muito pequeno, medindo cerca de 3 a 4 mm de comprimento, alojando-se no interior do tronco da nogueira-pecã, veja fotos deste indivíduo abaixo:
 

Além da exsudação de seiva e acúmulo de excremento, no local onde o Scolytidae penetrou na planta, outro sintoma que a planta manifesta, quando atacada por esta praga, é a murcha gradativa das folhas e ramos, até o ponto de secar totalmente as estruturas e facilmente chegando a morte, observe as fotos:

 

Nas fotos abaixo visualizamos uma planta em processo de morte e outra totalmente seca, já morta a vários dias.